ARQUIVO

Como aumentar o metabolismo de açúcares e a atividade antioxidante em plantas de cana-de-açúcar?

Figura 1. Ação do selênio (Se) na produção de açúcares a partir do aumento da eficiência do uso no nitrogênio (NUE), taxas fotossintéticas e ativação de enzimas-chave na síntese de açúcar aliada ao seu papel mitigador do estresse abiótico. SOD – superóxido dismutase, CAT – catalase, APX – ascorbato peroxidase, GR – glutationa redutase, H2O2 – peróxido de hidrogênio, 1O2oxigênio singleto.

Saccharum spp. é uma gramínea conhecida popularmente como cana-de-açúcar, (Santos and Diola, 2015) que corresponde a cerca de 80% da produção global de açúcares (Chen et al., 2019). Cultivada há centenas de anos e com programas de melhoramento voltados ao seu cultivo que proporcionaram a diminuição do seu custo de produção drasticamente (Leal et al., 2013) e que continua na busca incessante por mecanismos capazes de aumentar o açúcar produzido pela cana-de-açúcar (Chen et al., 2019),

A atual pandemia provocada pelo COVID-19 provocou decréscimo na demanda mundial do consumo de açúcar, principalmente pelas restrições nos padrões de importação e exportação (OECD/FAO, 2020) a fim de diminuir a disseminação do vírus, o que ocasionou prejuízos à economia. Assim, vê-se a necessidade ainda maior pela busca de mecanismos que possam aumentar a produção de açúcar.

O selênio é um elemento que atua no aumento dos processos antioxidantes contra a ação do estresse abiótico combatendo as espécies reativas de oxigênio (EROs) (Ríos et al., 2009; Silva et al., 2020; White, 2018), aumenta a produção de açúcares a partir do aumento da concentração de pigmentos fotossintetizantes e taxas fotossintéticas e ativação de enzimas-chave no processo de síntese de açúcares. como amilases, a sacarose sintase (SuSy) e a sacarose-fosfato sintase e invertase (Malik et al., 2011) (Figura 1).

A ciência busca aumentar a produção de açúcares, principalmente a sacarose que é a principal açúcar na produção de álcool e alimentação humana (Wu and Birch, 2007), é o melhoramento genético das variedades já cultivadas (Jackson, 2005; Wu and Birch, 2007) e aplicação de hormônios para o aumento do açúcar no colmo da planta (Chen et al., 2019).

A utilização de sacarose isomerases provenientes de bactérias já foram testadas como forma de aumentar a produção do açúcar. O açúcar produzido não seria degradado pela planta, mas seria uma fonte viável de energia para o consumo humano (Wu and Birch, 2007). As plantas modificadas com o gene da enzima produziram mais açúcar no caldo, aumentaram as taxas fotossintéticas da planta e apresentaram uma maior atividade nos tecidos que funcionam como dreno (Wu and Birch, 2007).

Um outro método utilizado para aumentar o metabolismo de açúcares na cana-de-açúcar é a utilização de etileno (Chen et al., 2019). A aplicação de Etephon (ácido (2-cloroetil) fosfônico), precursor do etileno é comumente utilizado na maturação da cana-de-açúcar (Li and Solomon, 2003). Houve aumento na produção de sacarose e amido apenas em genótipos que normalmente produzem pouco açúcar, variedades com alta produção de açúcar não apresentaram respostas significativas à aplicação do hormônio maturador (Chen et al., 2019).

Esses trabalhos com sucesso para o aumento da produção de sacarose ainda são escassos, os programas de melhoramento ainda mostram certas dificuldades. Segundo dados apresentados pela FAO (OECD/FAO, 2020), o consumo de açúcar nos próximos anos ultrapassará os valores de produção mundial. Os prejuízos provocados pela Covid-19 à produção global de açúcar não serão passageiros, serão então necessárias pesquisas com foco na produção e cultivo da cana-de-açúcar, responsável por cerca de 80% da produção do açúcar na indústrias de etanol e na alimentação humana (Chen et al., 2019). O Brasil, maior produtor mundial de cana de açúcar (Carvalho et al., 2017), viu sua liderança na produção de cana-de-açúcar ser tomada pela Índia em 2019/2020 vai retomar a dianteira por problemas do oponente relacionados ao clima (OECD/FAO, 2020). Assim, podemos acreditar que é uma década em que a Ciência, principalmente a brasileira, precisa voltar os olhos e esforços em suas pesquisas com essa importante gramínea.

Referências

Ahuja, I., de Vos, R.C.H., Bones, A.M., Hall, R.D., 2010. Plant molecular stress responses face climate change. Trends in Plant Science. https://doi.org/10.1016/j.tplants.2010.08.002

Anyia, A.O., Herzog, H., 2004. Genotypic Variability in Drought Performance and Recovery in Cowpea under Controlled Environment. Journal of Agronomy and Crop Science. htts:// 10.1111/j.1439-037X.2004.00096.x

Barcelos, J.P.Q., Reis, H.P.G., Godoy, C. V., Gratão, P.L., Furlani Junior, E., Putti, F.F., Campos, M., Reis, A.R., 2018. Impact of foliar nickel application on urease activity, antioxidant metabolism and control of powdery mildew (Microsphaera diffusa) in soybean plants. Plant Pathology. https://doi.org/10.1111/ppa.12871

Bastos, E.A., Nascimento, S.P. do, Silva, E.M. da, Freire Filho, F.R., Gomide, R.L., 2011. Identification of cowpea genotypes for drought tolerance. Revista Ciência Agronômica. https://doi.org/10.1590/s1806-66902011000100013

Brazzolotto, D., Gennari, M., Queyriaux, N., Simmons, T.R., Pécaut, J., Demeshko, S., Orio, M., Artero, V., Duboc, C., 2016. Nickel centred H+ reduction catalysis in a model of [NiFe] Hydrogenase Europe PMC Funders Group. Nature Chemistry. https://doi.org/10.1038/nchem.2575

Brown, P., Welch, R., Cary, E., Checkai, R., 1987. Micronutrients. Journal of Plant Nutricion. https://doi.org/10.1080/01904168709363763

Dadson, R.B., Hashem, F.M., Javaid, I., Joshi, J., Allen, A.L., Devine, T.E., 2005. Effect of water stress on the yield of cowpea (Vigna unguiculata L. Walp.) genotypes in the delmarva region of the United States. Journal of Agronomy and Crop Science. https://doi.org/10.1111/j.1439-037X.2005.00155.x

Dutra, A.F., De Melo, A.S., Filgueiras, L.M.B., Da Silva, Á.R.F., De Oliveira, I.M., Brito, M.E.B., 2015. Parâmetros fisiológicos e componentes de produção de feijão-caupi cultivado sob deficiência hídrica. Revista Brasileira de Ciências Agrária. https://doi.org/10.5039/agraria.v10i2a3912

Eskew, D.L., Welch, R.M., Norvell, W.A., 1984. Nickel in higher plants: further evidence for an essential role. Plant Physiology. https:// 10.1104/pp.76.3.691

Eskew, D.L., Welch, R.M., Cary, E.E., 1983. Nickel: an essential micronutrient for legumes and possibly all higher plants. Science. https:// 10.1126/science.222.4624.621

Gupta, A., Rico-Medina, A., Caño-Delgado, A.I., 2020. The physiology of plant responses to drought. Science. https://dx.doi.org/10.1126/science.aaz7614

Kar, R.K., 2011. Plant responses to water stress: Role of reactive oxygen species. Plant Signaling and Behavior. https://doi.org/10.4161/psb.6.11.17729

Malavolta, E., Haag, H.P., Mello, F.A.F., Brasil, M.O.C., 1962. On the mineral nutrition of some tropical crops. International Potash Institute, Berna.

Polacco, J.C., Mazzafera, P., Tezotto, T., 2013. Opinion – Nickel and urease in plants: Still many knowledge gaps. Plant Science. https://doi.org/10.1016/j.plantsci.2012.10.010

Shafaat, H.S., Rüdiger, O., Ogata, H., Lubitz, W., 2013. [NiFe] hydrogenases: A common active site for hydrogen metabolism under diverse conditions. Biochimica et Biophysica Acta. https://doi.org/10.1016/j.bbabio.2013.01.015

Shulaev, V., Cortes, D., Miller, G., Mittler, R., 2008. Metabolomics for plant stress response. Physiology Plant. https://doi.org/10.1111/j.1399-3054.2007.01025.x

Physiotek Letters: Baixe o artigo completo!

[simple-author-box]

Texto escrito por:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

2 × dois =