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Castanha-do-Brasil: um tesouro para a alimentação da população brasileira

Figura 1. Abertura do ouriço de castanha-do-brasil para obtenção das nozes. Foto: Anne Caroline Rocha Silva. Itacotiara-AM.

Você sabia que a castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) é o alimento mais rico em selênio (Se)? Reconhecida como principal fonte de Se para a dieta humana e animal, a castanheira-do-brasil tem sido objeto de muitos estudos, devido à grande variabilidade no teor desse elemento em suas castanhas, sendo já reportados valores de até 512 mg Se kg-1 em suas amêndoas (Freitas et al., 2004; Dumont et al., 2006). Segundo Kabata-Pendias & Mukherjee (2007) o Se possui importante papel na saúde animal, humana e em outros organismos, como bactérias e algas.

Amplamente distribuída em toda a região Amazônica, a castanha-do-brasil possui grande importância social, ecológica e econômica para a região, onde milhares de famílias e produtores rurais utilizam sua semente como fonte de renda e alimento (Wadt et al., 2012). Por isso tem sido incentivado o plantio de castanhas-do-brasil, reincorporando as áreas degradadas ao processo produtivo, uma vez que é o segundo produto florestal não madeireiro de maior relevância comercial, ficando atrás apenas do fruto do açaí (Euterpe spp.) (Pacheco & Scussel, 2007; IBGE, 2010). As nozes são formadas dentro do ouriço como ilustrado na Figura 1. Cada ouriço tem aproxidamente 15 a 17 nozes.

Mas afinal, o que é selênio? O Se é um elemento traço, com função oxidante, associado à selenoproteínas que protegem contra a oxidação no organismo. Este nutriente apresenta propriedades essenciais ou tóxicas para os seres humanos dependendo da faixa de concentração no alimento ingerido (Reis et al., 2020). A recomendação de ingestão diária de Se para humanos é na faixa de 50 a 70 μg por dia (Reis et al., 2017).

Os teores naturais de Se nos solos podem variar de 0,05 a 1,50 mg kg-1. Em sua maioria, os solos das regiões temperada úmidas, originários de rochas sedimentares possuem níveis de Se insuficientes para a produção de alimento com teores adequados à nutrição humana e animal, sendo necessária a adubação de correção (Reis et al., 2017). Os fatores que controlam a disponibilidade de Se para plantas e animais variam nos diferentes tipos de solos. Dentre eles, podemos citar a geologia, quantidade de matéria orgânica, pH do solo, presença de íons competidores como o sulfato e o fosfato, textura do solo, compactação e mineralogia, temperatura do solo, atividade microbiana, nível de precipitação, irrigação, etc. Por exemplo, solos com elevado teor de matéria orgânica e altos teores de oxihidróxidos de Fe e de argila tendem a inibir a absorção de Se pelas plantas e animais (Fordyce et al., 2010).

A deficiência ou toxidez de Se nos solos reflete no teor do elemento presente nos alimentos que são cultivados nestas regiões. Isso tem gerado interesse nos estudos de biogeoquímica deste elemento. O presente estudo busca conhecer melhor e caracterizar os teores de Se na castanha-do-brasil e em solos da região Amazônica e suas relações tanto com a disponibilidade de Se como com as possíveis bactérias redutoras de Se do solo. As amostras de solo e amêndoas foram coletadas em ambiente natural (castanhal nativo) e em fazenda de produção de castanha. A fazenda escolhida como área experimental foi a Aruanã, localizada no município de Itacoatiara-AM.

Diante da escassez de informações sobre o Se nos solos brasileiros, bem como sua relação com a castanha-do-brasil e a biodiversidade microbiana envolvida nos processos de redução e disponibilização deste elemento, espera-se através deste projeto fortalecer as pesquisas com Se em solos tropicais. O GEFA (Grupo de Estudos em Fisiologia Agrícola) tem projetos em parceria com Instituto Soka e Fazenda Aruanã situadas na Amazônia contribuindo para a formação de recursos humanos, de maneira multidisciplinar e que possa atender às demandas da sociedade, realizando uma pesquisa em alto nível científico. As Figuras de 1 a 5 ilustra o trabalho de doutorado de Anne Caroline Rocha Silva sobre coleta de ouriços para obtenção das nozes, coleta de solo e marcação de castanheiras nativas e cultivadas na região de Itacotiara-AM, e seleção de bactérias redutoras de Se das rizosferas de castanhais da Amazônia.

Figura 2. Coleta de amostra de solo em uma área de castanhal nativo. Foto: Anne Caroline Rocha Silva. Itacotiara-AM.

Figura 3. Árvore adulta de casanha-do-brasil, cultivar Manoel Pedro, Fazenda Aruanã, Itacotiara-AM. Foto: Anne Caroline Rocha Silva.

Figura 4. Abertura dos ouriços na fazenda Aruanã, Itacotiara-AM. Foto: Anne Caroline Rocha Silva.

Figura 5. Bactérias redutoras de selênio extraídas de amostra de solo da região Amazônica. Foto: Anne Caroline Rocha Silva.

Os estudos sobre variação genotípica de Se nas castanhas e sua regulação genética de acúmulo nas nozes ainda são muito escassas. É necessário mais estudos de caracterização genotípica de castanhais nativos e cultivados para o melhor entendimento sobre o acúmulo do Se nas nozes.

Referências

Dumont, E., Pauw, L., Vanhaecke, F., Cornelis, R., 2006. Speciation of Se in Bertholletia excelsa (Brazil nut): A hard nut to crack? Food Chemestry 95: 684–692. https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2005.04.004

Fordyce, F.M., Brereton, N., Hughes, J., Luo, W., Lewis, J. 2010. An initial study to assess the use of geological parent materials to predict the Se concentration in overlying soils and in five staple foodstuffs produced on them in Scotland. The Science of the Total Environment 408(22):5295–305.

Freitas, S.C., Antoniassi, R., Felberg, I., Santos, N.M.S., 2004. Selênio em castanha-do-brasil (Bertholletia excelsea). Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos. (Embrapa Agroindústria de Alimentos. Comunicado técnico, 71).

Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística (IBGE), 2010. Produção da extração vegetal e silvicultura 23: 1-45. IBGE, Rio de Janeiro.

Kabata-Pendias, A., Mukherjee, A.B., 2007. Trace Elements from Soil to Human. 10.1007/978-3-540-32714-1.

Kabata-pendias, A.; Pendias, H. Trace elements in soils and plants.  Elements group 16, fourth ed. CRC Press, Boca Raton, p. 367–383, 2011.

Pacheco, A.M., Scussel, V.M. 2007. Selenium and aflatoxin levels in raw Brazil nuts from the amazon basin. Journal of Agricultural and Food Chemistry 55(26): 11087–11092.

Reis A.R., El-Ramady H., Santos E.F., Gratão P.L. Schomburg L. (2017) Overview of selenium deficiency and toxicity worldwide: affected areas, selenium-related health issues, and case studies. In Selenium in plants: Molecular, Physiological, Ecological and Evolutionary Aspects (eds. E. A. H. Pilon-Smits, L. H. E. Winkel & Z. Q. Lin), pp. 209-230. Springer International Publishing, Cham. doi: 10.1007/978-3-319-56249-0_13.

Reis, A.R., Boleta, E.H.M., Alves, C.Z., Cotrim, M.F., Barbosa, J.Z., Silva, V.M., Porto, R.L., Lanza, M.G.D.B., Lavres, J., Gomes, M.H.F., Carvalho, H.W.P. 2020. Selenium toxicity in upland field-grown rice: Seed physiology responses and nutrient distribution using the μ-XRF technique. Ecotoxicology and Environmental Safety 190: 110147.

Wadt, L.H.O., Kainer, K.A., 2012. Domestication and breeding of the Brazil nut tree. In: Borém, A. et al. (Eds.). Domestication and breeding: Amazonian species. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. pp. 297–317.

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